Bruxelles I love you. Quatro palavras foram escritas em giz na histórica Praça da Bolsa, local de reuniões espontâneas no centro da cidade que vive em câmera lenta após o choque dos atentados desta terça-feira.
Bruxelles bruxellera toujours (Bruxelas bruxelará sempre), Bruxelles est belle (Bruxelas é linda), Dont worry (Não se preocupe)… Em francês, em holandês, em inglês, em árabe, os moradores de Bruxelas foram mostrar solidariedade e carinho pela cidade, atingida por atentados que deixaram cerca de trinta mortos e mais de 200 feridos.
Sinal de que o local rapidamente tornou-se emblemático, o primeiro-ministro belga Charles Michel foi até lá por volta das 20h (17h de Brasília), acompanhado do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
Desde que vim morar em Bruxelas, e hoje mais ainda, me sinto muito belga e muito bruxelense, estou aqui para testemunhar a vontade europeia de homenagear as vítimas belgas e europeias, viva a Bélgica!, lançou Juncker, segundo imagens da televisão VRT.
Desde o início da tarde, várias centenas de pessoas de todas as origens começaram a ir espontaneamente para a Praça da Bolsa, no centro histórico da capital belga.
Local de festa comum dos belgas, onde são comemoradas as vitórias dos Diabos Vermelhos, a seleção de futebol do país, tornou-se uma pequena praça da República, onde os parisienses foram se reunir após os atentados de janeiro e novembro de 2015.
Um violoncelo tocado por um jovem perfura o silêncio pesado, ele é aplaudido. Ainda mais flores e velas são colocadas na praça quando a noite cai em Bruxelas.
Uma mãe e seus dois filhos acendem uma pequena vela e deitam ao lado de outras, dispostos em coração. Um pouco mais adiante, outras pequenas chamas formavam o símbolo universal da paz.
Cristãos+muçulmanos+judeus = humanidade, lia-se no chão, entre várias mensagens escritas em giz de cera colorido. Unidos contra o ódio, diz uma bandeirola colocada nos degraus da praça.
Eu estou aqui para homenagear as vítimas e mostrar que o nosso país é solidário. Mostra que, apesar de nossos conflitos internos estamos unidos diante do horror, disse Thibault Demarneffe, 22 anos, estudante de turismo em Bruxelas, com os ombros envolvidos em uma bandeira belga.
– Fingir que não temos medo –
Sofiane, um argelino que foi completar seus estudos de sociologia em Antuérpia (norte da Bélgica) em 2011, reacende as velas que foram apagadas pelo vento brando.
É triste, lamentável, chocante, suspira: Conheci a Argpelia dos anos 1990. Não sabíamos o que era terrorismo, e um dia ele chegou até nós.
Sua emoção se transforma em raiva: É preciso ficar atento aos radicais que dizem que vão ao paraíso. Eles que façam a viagem sozinhos. Eu não tenho vontade de ir para o paraíso matando inocentes. Não é paraíso, é inferno.
É importante se unir após momentos como esses. É simbólico, mostra que estamos unidos face ao terror, estima Leïla Devin, uma atriz de 22 anos.
Não temos medo, eles são uma dezena e nós, milhares, afirma Juliette, uma universitária belga.
Eu e minha mãe viemos mostrar que somos orgulhosas de sermos belgas e que não temos medo…ou, ao menos, fingir que não temos medo. Porque hoje de manhã eu senti muito medo, reconhece Analphia Desmet, 22 anos, estudante de comunicação.
O ambiente é calmo, pede recolhimento. Alguns cantam músicas em coro, como Imagine, de John Lennon.
O que vivemos hoje é uma tragédia. E a escala é muito maior do que Bruxelas, Bélgica ou a Europa…na escala humana, é uma tragédia, garante Afaf, uma bruxelense. – Zoé LEROY / Philippe SIUBERSKI – I3D 6612