No coração do memorial do Holocausto de Israel, em Jerusalém, fotografias que glorificam Hitler e desumanizam os judeus são exibidas ao lado de imagens angustiantes de guetos judaicos e da libertação dos campos de concentração.
As imagens exibidas no memorial Yad Vashem fazem parte de uma nova exposição que combina fotos tiradas por perpetradores nazistas, vítimas judias e membros das forças aliadas que testemunharam os horrores dos campos de concentração em primeira mão no final da Segunda Guerra Mundial.
A exposição, chamada Flashes de Memória, abriu nesta quarta-feira, antes do Dia Internacional da Memória do Holocausto, celebrado em 27 de janeiro.
As diferentes perspectivas oferecem um olhar complexo sobre o Holocausto, da propaganda nazista a fotografias que mostram o sofrimento nos campos de extermínio.
A documentação visual durante o Holocausto moldou a forma como percebemos o Holocausto e o analisamos, e afetou a maneira como foi este foi gravado na memória coletiva, disse Vivian Uria, diretora da divisão de museus de Yad Vashem, que organizou a exposição.
A câmera e sua força manipuladora têm habilidades de grande alcance para influenciar.
A exposição inclui 1.500 fotos, das quais 450 são exibidas nas paredes, com 17 vídeos. Há também recortes de jornais, cartazes e câmeras.
Nós projetamos o espaço como uma câmera escura, disse Yossi Karni, da Design Mill, uma empresa envolvida na exposição.
Linhas de fotos ordenadas em paredes pretas trazem à mente o filme em uma câmera, e as paredes arredondadas que separam os espaços interiores fazem alusão à curva da câmera segurando um rolo de filme.
Entre todas as seções há mesas de luz contendo centenas de imagens.
– Nenhuma fotografia é inocente –
A exposição em si é dividida em seções separadas que tratam de diferentes períodos e temas, começando com imagens pré-guerra de alemães glorificando oficiais e valores nazistas, com outras imagens que desumanizam os judeus.
Mais adiante há fotografias da vida nos guetos judeus da Polônia, criados pelos nazistas depois que ocuparam o país, em 1939.
As imagens foram tiradas por fotógrafos alemães oficiais para mostrar como eles estavam usando os judeus para o esforço de guerra enquanto os reeducavam para uma vida de produtividade.
Outra seção mostra fotos tiradas em guetos por soldados e civis alemães, que oferecem um vislumbre mais autêntico da vida nos enclaves judeus.
Queríamos expor o sofrimento, o que realmente aconteceu nos guetos, disse Uria. A pobreza, a fome, as doenças, a morte.
Os judeus obrigados a colaborar com os ocupantes alemães também tiraram fotografias que mostram a produtividade dos guetos, imagens que buscavam impedir a deportação de judeus para os campos de concentração.
Fotos tiradas secretamente pelos mesmos fotógrafos mostraram a sombria realidade dos guetos.
A última seção da exposição mostra fotos e filmes feitos por soldados soviéticos, americanos e britânicos nos campos de extermínio que eles libertaram.
Antes de mais nada, lembro-me das filmagens, disse Tomy Shacham, um sobrevivente de Auschwitz que participou da abertura da exposição.
Foi filmado uma semana depois que os russos chegaram (para libertar Auschwitz), e eu já tinha 11 anos, então eu lembro de tudo.
As imagens foram usadas para mostrar às sociedades ocidentais e comunistas os males do fascismo e como testemunho nos julgamentos dos criminosos de guerra nazistas.
Elas foram inclusive distribuídas entre o público alemão para mostrar a extensão dos horrores, de acordo com Uria.
Nós queríamos mostrar, olhe como essa história começa com a estética, com este espaço final expressando os horrores e o fim da história, afirmou.
A propaganda e esse tipo de ideologia trazem este tipo de resultado destrutivo, disse.
A exposição desafia os fotógrafos atuais a considerarem seu trabalho.
É crucial ter em mente a responsabilidade do fotógrafo – sua perspectiva, posição moral e responsabilidade pelos resultados de suas fotos, disse Uria. Com a fotografia tão difundida, a questão é: o que você faz com ela?
Daniel Uziel, chefe da coleção de fotos de Yad Vashem e consultor histórico da exposição, disse que a mostra não é sobre fotografia durante o Holocausto, e sim sobre o uso da fotografia durante o Holocausto.
Mesmo hoje, ou talvez hoje mais do que no passado, você deve dar uma olhada crítica nas fotografias, disse, observando que a guerra civil na Síria é um conflito que incluiu a manipulação de imagens.
Uria disse: não há dúvida – nenhuma fotografia é inocente.
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