São Paulo, 21 (AE) – A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) desenvolveu uma solução para minimizar os riscos de investir em startups no Brasil. Em vez de fazer um aporte nas companhias em troca de uma participação acionária, como fazem os investidores privados, a instituição receberá uma opção de compra de ações da empresa investida.
Na melhor das hipóteses, se a startup crescer e se transformar no próximo Facebook, a financiadora pode converter sua opção e se tornar sócia de um negócio bilionário. Se ela quebrar, a Finep perde o investimento, mas fica livre do ônus de ser acionista de uma empresa falida.
A financiadora já captou R$ 20 milhões para o fundo Finep Startups, que será lançado em novembro. Os recursos serão destinados a companhias com faturamento de, no máximo, R$ 3,6 milhões, que já têm um produto desenvolvido, mas precisam de capital para conquistar mercado. Cada empresa poderá receber um aporte de até R$ 1 milhão e, em troca, dará a Finep uma opção de compra de participação. Três anos depois de fazer o investimento, a Finep poderá exercer a opção ou renová-la por mais dois anos.
A instituição prevê o lançamento de outro edital em 2016 e outros dois em 2017, cada um com mais R$ 20 milhões. A seleção será feita por meio de uma chamada pública e vai priorizar companhias em áreas definidas como estratégicas pelo governo, como saúde, defesa e energia. A estimativa da Finep é de que 40 startups recebam investimentos até 2016.
Não tínhamos um instrumento de apoio financeiro adequado para as empresas em estágio inicial, diz o presidente da Finep, Luis Fernandes. Segundo ele, as novatas têm dificuldade em acessar as linhas de crédito da instituição, principalmente por não ter garantias para oferecer. Elas precisam de capital de risco para crescer. Crédito não funciona, disse.
O problema é que o setor privado ainda é avesso a companhias em estágio inicial. A Finep identificou uma escassez de recursos para estimular as empresas quando elas já têm um produto, mas ainda não conseguiram colocá-lo no mercado. Muitas dessas companhias já receberam aportes financeiros dos chamados investidores-anjo – pessoas físicas que investem em startups – e precisam de mais recursos, mas ainda não estão prontas para acessar fundos que compram participações em empresas, como os de venture capital.
Para o diretor executivo da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), Guilherme Junqueira, o financiamento público pode ajudar as empresas a crescer, mas não é o ideal no longo prazo. Em mercados mais maduros, o governo entra para fazer a empresa crescer mais rápido e para atrair a iniciativa privada, que fará investimentos de maneira mais cíclica, disse.
Anjos
O edital do fundo para startups prevê que as empresas que apresentaram uma carta de intenção de investidores-anjo dispostos a acompanhar a Finep no investimento ganharão pontos na seleção.
Para o CEO da Brazil Innovators, André Monteiro, o modelo adotado pela Finep é positivo, pois dá preferência à startups que já passaram pelo crivo de investidores-anjo. Contudo, este critério não deve conduzir a decisão de quais empresas receberão recursos públicos. É importante considerar a qualidade dos investidores, porque, às vezes, trata-se de alguém que só tem dinheiro e pouco entendimento para fazer uma análise adequada do projeto, diz.
Os investidores-anjo que se aliarem à Finep também terão opções de compra nas empresas, proporcionais aos aportes que farão – definido entre R$ 50 mil e R$ 350 mil. Isso simplifica o risco, que passa a ser só o de capital, disse Cássio Spina, presidente da Anjos do Brasil, organização criada para fomentar investimentos nesse segmento. O temor de ter seu patrimônio pessoal comprometido caso a empresa vá à falência afugenta investidores, diz Spina. – BRASIL EM FOLHAS COM AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS – I3D 869